sábado, 26 de janeiro de 2013

COLUNA VERTEBRAL E O USO DO CINTO – O MAIOR TABU


A coluna vertebral sempre será motivo de medo ou de preocupação dentro da vida do Ser Humano. Mas, dentro dos Exercícios com Pesos foram formados muitos tabus que serviram muito mais para assustar do que para prevenir alguma lesão. As perguntas mais frequentes são do tipo “mas não é arriscado para a coluna levantar pesos assim?” ou “vocês usam cinto para proteger o lombar, não é?”

A resposta é Não. O uso do cinto lombar como método de prevenção utilizado por um grande número de praticantes muitas vezes acaba prejudicando. O uso do cinto deve se restringir ao tentar uma carga realmente elevada para nós e que haja real necessidade. Mesmo que seja para dar uma “força psicológica”, quando o praticante achar necessário.
  
Fora isso o uso do cinto acaba sendo até nocivo. Se você gosta ou se sente seguro usando o cinto e ainda por cima vê pessoas usando cinto durante toda a rotina de atividade na academia, é importante saber que seu uso constante impede que sejam fortalecidas estruturas musculares importantes da região lombar e ainda pode ajudar a criar uma situação propícia para que surjam hérnias de disco e umbilical. Deixe para usar o cinto em exercícios com pesos maiores do que você já conseguiu, aí o uso do cinto terá sua função real de proteção, mesmo que seja psicológica. 
Ao lado, Anatoly Pisarenko: 205kg de Arranco. Repare que não está usando cinto. 
Sobre as hérnias: Nós temos um “cinturão natural” formado, na região anterior e lateral do tronco pelos músculos intercostais (entre as costelas), músculos abdominais e, na região posterior, pela musculatura lombar e por vários músculos eretores da espinha, responsáveis pela sustentação da coluna. Todos estes músculos devem ser trabalhados e desenvolvidos. O cinto usado constantemente impede o desenvolvimento de musculatura compatível com a carga que se está conseguindo sustentar com seu uso.

A região abdominal se projeta  naturalmente para a frente quando executamos alguns movimentos, como por exemplo quando nos agachamos, e não precisa ser em um exercício, no dia a dia mesmo isto ocorre naturalmente. Mesmo tendo um abdômen definido, isto vai acontecer naturalmente.

O uso do cinto impede essa projeção para frente, e o orifício miopectíneo (área em volta do umbigo), que é a região mais fraca do abdômen, vai sendo forçada contra a “parede” formada pelo cinto até se romper, formando uma hérnia umbilical.
  
O uso do cinto foi muito difundido nas competições de Levantamento de Peso Olímpico, utilizado principalmente para a execução de um movimento que não faz mais parte dos Levantamento Olímpicos desde 01 de Janeiro de 1973: o Desenvolvimento.




Para atingir marcas extremamente altas na execução deste movimento – o recorde mundial de Desenvolvimento em competição foi de Vasily Alexeev com 236,5kg. Cada país apresentou suas versões de cintos, dentro das medidas permitidas pelas regras. Cintos com a parte de trás reforçada com chapa metálica, couro duplo etc. A popularidade do uso do cinto para treinar também aconteceu pelas fotos de revistas que mostravam fisiculturistas utilizando o cinto para executar determinados exercícios e fez com que seu uso se transformasse comum para todos, só que muitas pessoas passaram a ficar dependentes do uso do cinto.  
Entre os Levantadores de Peso podemos considerar que o cinto é utilizado por metade dos praticantes. Muitos utilizam o cinto como um “apoio psicológico”, alguns nem ajustam de forma que tenha alguma função, preferindo colocar o cinto só para saber que está ali.   

Exercícios para fortalecer a musculatura da região abdominal são executados por muitos, mas são poucos os que dão a mesma atenção necessária aos exercícios para fortalecer a região lombar. Aí aumenta o desconhecimento sobre as capacidades do corpo e o meio mais fácil que se vê para tentar assegurar uma “força extra” é o uso do cinto, que acaba impedindo mais ainda o fortalecimento da região lombar, que deveria ser muito bem trabalhada.

Adianto aos leitores que, quem quiser mais detalhes para garantir uma base em estudo realmente científico sugiro o estudo feito em 1961 por Morris et al., em resumo aqui para não ser muito extenso:

Vamos ao mito sobre a fragilidade da coluna numa situação comum que acontece corriqueiramente no dia a dia, que seria a de levantar um objeto do chão, partindo da ideia que estaremos posicionados em frente ao peso.

Analisando a coluna como uma estrutura óssea que trabalhasse sozinha, não como parte de um sistema, ela começaria a apresentar falhas em seus segmentos quando submetidos a uma força compressiva de esmagamento que varia entre 4.400 / 7600 N (Newtons), o que é em torno de 440 / 750 kgf (kilograma-força) em um indivíduo saudável. Em pessoas debilitadas ou idosos sedentários estes números podem ser bem menores, chegando a 1300 N (130 kgf).

O Ser Humano é um sistema complexo e nada trabalha isoladamente. Em nosso exemplo, vamos colocar na situação um homem de menos de 40 anos, com peso corporal de 77kg, levantando um peso de 90kg do chão. Vamos entender o que funciona realmente, que é o seguinte:

Para levantar um peso do chão, o núcleo pulposo do 5º disco lombar é considerado como fulcro (ponto de apoio ou eixo) do movimento. Os braços e o tronco formam uma longa alavanca anterior. O peso que está sendo levantado é contrabalançado pela contração dos músculos profundos das costas agindo sobre uma alavanca muito mais curta.

Se o papel do tronco fosse omitido, a força exercida sobre o disco lombossacro seria de aproximadamente 9000 N (900 kgf), muito maior do que os segmentos da coluna isolada podem suportar sem falha estrutural. Isso não ocorre porque os músculos do tronco contraídos transformam as cavidades abdominal e toráxica em cilindros semirrígidos que aliviam a carga exercida sobre a coluna propriamente dita.

A coluna tem uma estabilidade própria através de seus componentes rígidos - vértebras -, e elásticos – discos e um sistema de ligamentos. Uma importante estabilidade externa é proporcionada pelos músculos paravertebrais (músculos próximos à coluna) e pelos vários músculos do tronco. Tórax e abdômen ajudam a proporcionar estabilidade à coluna. A contração generalizada dos músculos do tronco, incluindo os intercostais (entre as costelas) e também os da cintura escapular (principalmente o trapézio), transformam a caixa toráxica em uma estrutura rígida presa firmemente à parte toráxica da coluna. Quando a inspiração eleva a pressão intratoráxica, a caixa toráxica e a coluna se transformam numa unidade sólida e inflexível capaz de suportar e transmitir grandes forças. Com a contração do diafragma, preso na margem inferior do tórax e servindo como base para a parede abdominal (principalmente para o transverso do abdômen), o conteúdo abdominal também é comprimido num cilindro semirrígido.

Assim sendo, a força do peso levantado pelos braços é transmitida para a coluna através dos  músculos da cintura escapular e a seguir para o cilindro abdominal e para a pelve parcialmente através da coluna, mas também através da caixa toráxica. Colocando-se forças maiores, naturalmente cria-se maior rigidez da caixa toráxica e maior compressão do conteúdo abdominal graças à maior atividade dos músculos do tronco, resultando em aumento das pressões intracavitárias (internas). Toda essa contração é um movimento reflexo: quando se coloca um peso na coluna, os músculos do tronco se contraem para fixar a caixa toráxica e para contrair o conteúdo abdominal.

Tudo isso resulta em um apoio ao esforço que teoricamente seria trabalho exclusivo para a coluna, e a verdadeira força em que a coluna isoladamente é submetida é bem menor do que se pensa. O importante na história toda é saber que, quanto melhor estiverem desenvolvidos os músculos, melhor a integridade de todo o organismo.     

Por isso, Treine Direito!

Jorge Califrer         


Um comentário:

  1. Ótima matéria, realmente existe um grande exagero na utilização do cinto. Aqueles que utilizam o cinto para tudo devem lembrar que a proteção maior é ter o lombar bem treinado para suportar altas cargas,e que o cinto só deve ser utilizado quando se estiver no limite, ou em tentativa de ultrapassar este limite.

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